terça-feira, 30 de março de 2010

Desse jogo sabes muito bem
Já é velho jogador
Sou inicante, pobre perdedora
Desconheço os lances, as pedras e o valor!

Na partida, só te peço um favor:
Não blefe, não me deixe enganada
Não me faça apostar na carta errada!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Se tens sede, vens! Beba deste que é meu copo, mas pode ser também teu, se for da tua vontade. Vem, mas não beberique, não se acanhe, se sacei, beba até a última gota e até não haver mais carecer. Se atreva, ouse, peça um pouco mais, mesmo não sendo preciso, só pra desconcertar, pra cambalear.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Porque nem tudo é doce!

Ainda eram seis da matina, e eles já estavam despertos, já perambulavam pelas ruas, já eram vultos cinza em uma cidade que amanhecia. Ela se mantinha ali, na praça, que agora era seu lar, em frente a uma igreja, de um Deus que ela pouco conhecia, mas temia, porque a condenara àquela vida miserável, e por quem clamava em dias de terror, de horror.
Eram seis da matina, e em frente àquele lugar sacro eles tinham águardentes na mão. Ela bebia, bebia. Bebia para alucinar, para esquecer da noite anterior, pra esquecer que amanhecera e o ventre ainda contraia de fome. Caia, e gargalhava de sua própria queda, e bebia. Mas beber não era suficiente, depois da euforia a fome a maltrataria, a sede tornaria mais forte, a amnésia seria curada.
Ela não queria ter que mendigar, não queria ver o rosto de lástima, de indiferença, de desprezo dos outros, não naquele dia, não queria ter que ver seu sofrimento nos olhos dos outros, parecia ainda maior, ainda mais intenso. A lembrava o quanto era pouco, o quanto pouco tinha, nada. Percebia o quanto sua aparência maltrapilha assustava, seu mau odor repugnava. Pior era saber que a compaixão do outro seria fugaz, bastaria virar a esquina pra ser esquecida, pra ser mais um vintém perdido, uma consciência menos pesada.
Entre os seus, ela era igual. Comutavam das mesmas necessidades, das mesmas mazelas, mas eram peculiares, não eram um só como viam os outros, todos famintos, todos vagabudos, todos indigentes.
Vadia era como muitos a chamavam, e não se envergonhava mais desse título, era mesmo vadia, cheia de maus vícios. Mas seu nome era Maria, como tantas, tinha nome e sobrenome, mas isso pouco importava, ser Silva e Ferreira pouco dizia, não a fazia ter família, casa, origem ou história. Pensar em família era doloroso, trazia fantasmas, melhor deixar pra lá.
O efeito da cachaça passava e a dor crescia, era como se seu êstomago corroesse, teria que mais uma vez deixar o orgulho-vergonha de lado, e ir à luta, pedir uns trocados, tentar trocá-los por algo que enganasse seu corpo, que desse a falsa ideia de saciedade. Então, Maria tornou-se mais um vulto cinza em uma cidade já cheia de cores. E ela não sabia se lamentava pelo novo dia ou agradecia por ainda estar ali, ainda existir.