Sal e limão. Duas doses de tequila. Ela bebe pra esquecer que nesta noite alguém a observa, que há um olhar sobre ela, que há um depois. Ela só quer se entregar à música, fazer o corpo entrar naquela cadência. Sem pensar no que o movimento sinuoso do seu corpo libertaria, provocaria. O que desperta? "É sexta-feira, amor!". Seu corpo quer apenas brincar, sentir a batida, dançar na mesma frequência. Quer festar, celebrar, pedir passagem. Seu corpo quer jogar com o corpo das outras meninas que se divertem, quer entrar no compasso do corpo dele, sem pretensões. Rir, flutuar, seguir linhas curvílineas.
Ela se sente leve, rarefeita. Livre. Não há observador, julgamento ou moral. O corpo dele se entrelaça no seu, sem pudor, sem temor. Ele entrara pra brincadeira, também só se divertia, adentrara na música por completo, pés no chão, mente no ar. Transbordavam. A dança era de dois, um encontro. Estavam em um ritmo só. Braços, pernas e quadris. O calor que rondava e envolvia ambos fez pele transpirar em festim.
Do fogo de um baile quente eles se foram pra friagem de uma madrugada descoberta. Naqueles dias eles se viram como nunca antes. Sentiram como nunca antes. Ele viu olhos de faísca, corpo em requebre, láscivo. Calor. Ela viu o que antes eram pontos cegos, ele permitiu que ela olhasse bem profundo, se mostrou quebradiço. Sem márcaras de segurança trocaram dores e traumas. Fazia muito frio, o ar era gélido, mas não se feriram. Não havia pesar, ainda transbordavam. O sol nascia. Céu, sal e limão.
"No canto do cisco
No canto do olho
A menina dança
E dentro da menina
A menina dança
E se você fecha o olho
A menina ainda dança
Dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer"